Tudo aconteceu tão de repente”. Foi assim que Maria Geciane Xavier, 27, começou a desfiar o luto. A imprudência ceifou a vida do marido, Marcos Paulo dos Santos, 23, num sábado de outubro em 2010. “Ele pilotava a moto sem capacete. Morreu na hora”. O veículo era de um amigo. Marcos estava indo acertar o consórcio para comprar a própria moto. Tentava a vida em Fortaleza, enquanto a mulher e o filho o esperavam em Barreira, a 75,5 quilômetros da Capital. “Uma caçamba (caminhão) bateu nele. Não teve jeito”.
Entre 2002 e 2011, 4.106 pessoas morreram em acidentes de moto no Ceará, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito do Ceará (Detran-CE). Em dez anos, o crescimento foi de 194,9%.
Em 2002, das 1.289 mortes, 258 vítimas fatais estavam de moto. No ano passado, das 2.091 pessoas que morreram, 761 pilotavam motocicleta. O número, em 2011, corresponde a 36,39% dos acidentes fatais no trânsito. Isso quer dizer que, no ano passado, foram os motociclistas que mais morreram nas vias do Ceará. A estatística também foi a maior já registrada aqui desde 2002. Entre as vítimas fatais de acidentes de trânsito em 2011, a maioria foi homens, dos 30 a 59 anos.
Para órgãos de trânsito, o aumento da frota associado à imprudência contribuiu para o crescimento dos números. Em 2004, por exemplo, eram 282.826 motocicletas. O número correspondia a 31,7% da frota. Em 2011, subiu para 837.413, correspondendo a 43,1% do total de veículos. “Quanto mais carros, maior o conflito para conseguir um espaço na rua”, avaliou o chefe do núcleo de trânsito da Autarquia Municipal de Trânsito (AMC), Arcelino Lima.
A professora do curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), campus Sobral, Gislene Macêdo, que pesquisa Mobilidade Humana, frisou que a moto surgiu como uma “boa” alternativa à mobilidade das vias. “Além do acesso à compra ser facilitado, a moto é mais ágil, mais veloz, mais econômica... Quem enfrenta o trânsito cotidiano tem mais fluidez no tráfego”.
Com o aumento da frota, segundo ela, o espaço reduz e quem está nas vias faz de tudo para ocupar o seu território. É nesse momento que atitudes de desrespeito às leis de trânsito se tornam comuns. “Costurar” entre os carros e não respeitar o limite de velocidade, por exemplo, colocam a vida de quem pilota em risco.
Segundo Arcelino Lima, pilotar entre os carros está entre as infrações mais cometidas por motociclistas, junto com a falta de uso do capacete. O POVO tentou ter acesso aos números, mas a assessoria de imprensa da AMC informou, por meio de nota, que o presidente Fernando Bezerra não estava permitindo que estatísticas sobre multas fossem repassadas.
Sem capacete
No ano passado, pilotar sem capacete foi a infração mais registrada pelo Detran - 23.040 motociclistas foram autuados. O cirurgião vascular Lineu Jucá, do Instituto Dr. José Frota (IJF), hospital referência em trauma, alertou que a maioria dos motociclistas morre por causa de traumatismo cranianoencefálico. A falta de capacete contribui para isso, na hora da queda. “É uma prática que facilmente pode levar à morte”.
ENTENDA A NOTÍCIA
Não usar o capacete, ultrapassar o limite de velocidade, pilotar “costurando” os carros. Além do crescimento da frota, atitudes de desrespeito às leis de trânsito têm contribuído para o aumento no número de óbitos por acidentes de moto.
Saiba mais
O POVO pediu os dados parciais de mortes em 2012. O Detran-CE, no entanto, informou que ainda não tinha dados de nenhum dos meses deste ano porque as estatísticas vêm de vários órgãos e ainda não começaram a ser compiladas.
Pelo artigo 170 do CTB, dirigir ameaçando os pedestres que estejam atravessando a via pública ou os demais veículos é infração gravíssima, com multa e suspensão do direito de dirigir.
Pelo artigo 244, conduzir motocicleta, motoneta e ciclomotor sem usar capacete de segurança com viseira ou óculos de proteção também é infração gravíssima, com multa e suspensão do direito de dirigir.
Leia amanhã
Para preservar a vida dos motociclistas, especialistas apostam em educação de trânsito e mudança de atitudes. Veja também o que o poder público tenta fazer para reduzir a mortalidade.
Gabriela Meneses
O Povo
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