VÁRZEA ALEGRE - CE: Aluno do IFCE Campus Cedro ajuda irmão a vencer obstáculos

 

Centro-sul

Estudante ajuda irmão a superar obstáculos

O companheirismo entre Romildo e Ricardo Oliveira Silva fez deles destaques em olimpíadas escolares
Várzea Alegre. O exemplo de superação do estudante Ricardo Oliveira, cadeirante, portador de amiotrofia espinhal e colecionador de quatro medalhas de ouro e uma de prata na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), é conhecido no Brasil. Mas poucos sabem sobre a história do irmão dele, Romildo Oliveira da Silva, que esteve sempre apoiando e ensinando o irmão vencedor.

Romildo concluiu o sétimo semestre do curso Técnico em Informática, na cidade do Cedro, e se mantém com uma bolsa de estudos. Seus pais vivem em Várzea Alegre com o outro filho, Ricardo, portador de amiotrofia espinhal FOTO: HONÓRIO BARBOSA

Os dois são filhos do casal Francisca Antonia da Conceição, dona de casa, e Joaquim Oliveira, agricultor. Eles moravam na zona rural, no Sítio Vacaria, no Distrito de Ibicatu. A família sobrevivia da agricultura familiar, da colheita de arroz, milho, feijão, batatas e macaxeira.

Ricardo Oliveira nasceu com uma doença rara, amiotrofia espinhal, que limita sua locomoção. Por isso, permaneceu em casa por vários anos. Foi alfabetizado pela mãe, de quem recebeu as primeiras noções de português e matemática.

Em decorrência da doença do filho, a família mudou-se para São Paulo para buscar tratamento de saúde no Hospital das Clínicas. Na época, Ricardo tinha quatro anos. Lá, nasceu o segundo filho, Romildo da Silva. Após um período de assistência médica e diagnóstico da doença de Ricardo, o casal trouxe os dois filhos de volta a Várzea Alegre.

Retornaram para o sítio Vacaria. Aos quatro anos, Ricardo já estava alfabetizado pela mãe, que era professora das séries iniciais do Ensino Fundamental, mas permanecia estudando em casa, pois havia dificuldades para levá-lo até a escola. Romildo também foi alfabetizado pela mãe, mas logo foi matriculado na Escola de Ensino Fundamental Joaquim Alves de Oliveira, onde passou a frequentar a 2ª série do ensino fundamental.

Amizade
Nesse período, os dois irmãos, que têm diferença de quatro anos de idade, estreitaram o laço de amizade e passaram a estudar juntos. "Eu levava tarefas para Ricardo resolver. Ele sempre se mostrou interessado e começamos a estudar juntos todas as disciplinas", disse Romildo.

Passaram a ser comuns as discussões entre os dois irmãos sobre os conteúdos das diversas disciplinas, mas a atenção maior de Ricardo era por matemática. Com o apoio do irmão, Ricardo foi aprendendo os conteúdos em casa e estudava diariamente, sentado no chão, enfrentando dificuldades e os desafios.

"Fizemos uma parceria que deu certo e, hoje, estou feliz e orgulhoso por ter tido a chance de ensinar e ajudar o meu irmão no começo de sua aprendizagem", disse Romildo.

Em 2005, Ricardo Oliveira foi descoberto pela Secretaria de Educação do Município, que realizava um programa de inclusão educacional. Fez prova de validação e mostrou-se apto a ingressar no 6º ano (antiga 5ª série).

Os dois irmãos continuaram estudando juntos, mas Ricardo Oliveira passou a ter a visita de professores em casa. Os docentes levavam material didático, tiravam dúvidas e davam explicações ao aluno especial.

Em 2006, os dois irmãos participaram da OBMEP. Ricardo foi campeão e recebeu medalha de ouro. Romildo obteve medalha de prata. De lá para cá, Ricardo passou a colecionar quatro medalhas de ouro e três de prata. Romildo recebeu quatro menções honrosas.

Mudanças
A vida da família sofreu profunda transformação graças ao destaque de Ricardo que passou a ser conhecido em todo o Brasil. A Prefeitura alugou uma casa na cidade e o Governo do Estado concedeu bolsa para que o aluno campeão de matemática passasse a dar palestra para outros alunos do Ceará. O pai conseguiu um emprego público municipal.

No último ano do Ensino Médio, os dois irmãos se separaram. Atualmente, Romildo conclui o 7º semestre do curso de Técnico em Informática. É monitor de programação estruturada. Divide um apartamento na cidade com colegas e, graças à bolsa da monitoria, consegue permanecer em Cedro.

"Meu sonho é fazer a faculdade de Informática e ser professor. Os alunos da monitoria dizem que levo jeito para ensinar, porque sou paciente". Romildo é admirado e querido pelos alunos, não se cansa de tirar dúvidas. Teme, porém, não ter condições financeiras de fazer o ensino superior devido às despesas em outra cidade distante de Várzea Alegre, mesmo estudando em uma instituição pública.

ENQUETE
O que você acha de Romildo como monitor?
"Ele é um ótimo aluno e um excelente colega. Gosta de estudar, é desenrolado e é muito querido pelos alunos e professores. É uma pessoa próxima e amiga da gente"

Aldemir Alencar/Monitor
"Com muita facilidade, ele tira as dúvidas da gente. Explica bem o conteúdo e é ótimo em Matemática e Informática. Espero que ele tenha um futuro promissor como professor"

Mara Rúbia de Oliveira/Aluna
REPÓRTERHONÓRIO BARBOSA

Materia Publicada em: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1187030